Spellbound (Dungeons & Dragons): setembro 2009

quinta-feira, setembro 24, 2009

The Wise Gygax

Hoje estava limpando minha caixa de e-mails (divertido, produtivo, experimente!) e dei de cara com um trecho de uma entrevista com o Gary Gygax feita pelo RPG.net. Guardei isso no e-mail e agora vou postar aqui, porque vale a pena reproduzir o comentário:
RPGNet: So where exactly would you say roleplaying games fit into the continuum of the human arts and sciences? Are they literature? Theater? Mathematical hallucinations? What do they grow out of, and what might they be growing into?

Gary: To think of the RPG as anything more than a game for entertainment- not a pastime, but entertainment form- seems pretentious to me. Writing or even playing a game might be done artfully, but it is not an art form in the strict sense of the term. A RPG isn't literature either in such terms. A game is a game, and it seems highly pretentious to assert that an RPG is anything other than that. As for "growing", as far as I can tell, the RPG can be offered for play in different media, but growth? Change maybe, but otherwise...

Tradução:
RPGNet: No continuum das ciências e artes humanas, onde você diria que os jogos de RPG se encaixam? São literatura? Teatro? Alucinações matemáticas? Onde começou a evolução desse jogo, e o que ele se tornará no futuro?

Gary: Pensar no RPG como algo mais do que um jogo para entretenimento- não um passatempo, mas uma forma de entretenimento- me soa pretensioso. Escrever ou mesmo jogar um jogo pode ser feito de maneira artística, mas não torna o jogo uma arte no sentido literal. Nos mesmos termos, um RPG também não é literatura. Um jogo é um jogo, e parece muito pretensioso afirmar que um RPG é algo além disso. Quanto ao "crescimento", até onde sei, um RPG pode ser jogado em diferentes mídias, mas crescimento? Mudança, talvez, mas fora isso...

Interpretação não é nada, diversão é tudo, não jogue a terceira edição. É impressão minha ou eu estraguei o slogan?

quarta-feira, setembro 16, 2009

Dragon Slayer e a 4e - quem se importa?

Esse post é longo, prolixo e considerando que o blog tem pouquíssimos leitores - normal, já que eu sou enrolado demais pra postar mais de 2 vezes por mês - tem potencial pra ofender um bocado de gente, mas não vai.

Mal aí por não postar links, mas prefiro não dar nomes aos bois. Não é nem necessário, se você está lendo isso, com certeza lê um bocado de outros blogs e sites muito mais populares sobre D&D.


Então a Dragon Slayer postou uma resenha acabando com a 4a edição e muita gente não gostou. E daí?

Antes de mais nada, quero deixar claro que deixei de levar a Dragão Brasil a sério quando ainda tinha uns 14 anos de idade e não vejo o menor motivo pra ter uma atitude diferente em relação à Dragon Slayer. Talvez isso tenha a ver com uma certa atrocidade chamada Tormenta.

O problema é que esse pessoal todo indignado com a resenha não só está perdendo tempo, como está cuspindo fogo pelos motivos errados.

Vi no Orkut e em outros blogs gente dizendo que o texto é ruim porque é tendencioso. E qual é o problema nisso? Alguém ainda acha que existe jornalismo objetivo? Concordo que ninguém deveria aprovar que qualquer veículo de mídia tente passar inverdades ou mentiras descaradas como fatos, mas quando se trata de uma resenha de um produto, esperar imparcialidade é ingenuidade demais.

Alguém que não tem o mínimo envolvimento emocional com um hobby provavelmente não tem cacife o suficiente pra escrever sobre aquilo. Então o tal do Leonel Caldela detestou a 4a edição e fez questão de demonstrar isso na resenha. E você com isso?

Também li que enquanto única revista de RPG do país, a Dragon Slayer não pode se dar ao luxo de publicar uma opinião negativa sobre a nova edição. Algumas justificativas pra esse argumento beiram o estapafúrdio.

Por exemplo, aparentemente o pessoal que depende da revista pra se informar sobre RPG por não ter acesso fácil a internet vai deixar de jogar a 4e porque vai formar uma opinião negativa baseada na resenha (e outras alfinetadas publicadas). Cara, tem tanta coisa errada com esse argumento que não sei nem por onde começar.

Em primeiro lugar, que pessoal é esse que depende da Dragon Slayer pra qualquer coisa? Alguém que não pode pagar pra acessar a internet, seja em casa ou em uma lan house provavelmente não vai desembolsar 10 reais numa revista (que por sinal, é bem difícil de encontrar na banca) voltada para um hobby onde a maioria dos livros (que também não se encontram em qualquer lugar) custa caro. Em outras palavras: alguém da nossa geração que se encontra privado de acessar a internet regularmente muito provavelmente não tem nem dinheiro pra jogar RPG. A não ser, é claro, que ele usasse PDFs baixados da mesma internet a qual ele não usa nem pra ler sobre o jogo. A palavra pra descrever isso é falácia, ou se você se amarra em inglês, bullshit.

E mais: ainda que esse fosse o caso, de que te importa se alguém é idiota o suficiente pra tomar a resenha como verdade absoluta (a despeito do próprio autor aconselhar o contrário) e sair falando mal do jogo? Você gosta, você joga, você é capaz de formar a própria opinião, parabéns.

Tem gente que acha pecado falar mal de RPG (em especial RPG nacional) porque isso prejudica o mercado. É isso? Será medo da publicidade negativa afetar as vendas da 4a edição em português e finalmente fazer a Devir abandonar a linha? Claro que se você gosta do jogo, não quer ver isso acontecer, mas condenar a opinião alheia só porque a mesma bate de frente com os seus interesses (no caso, de ver a 4a edição vendendo bem) não me soa exatamente virtuoso. Talvez a questão aqui não seja integridade jornalística, mas confesso que nesse ponto já estou especulando demais.

A parte mais engraçada é que algumas respostas indignadas atacam a resenha ponto-a-ponto, tentando provar por A+B que a 4a edição é, sim, um jogo muito melhor que a 3a edição (isso é verdade, mas até aí, não é exatamente um baita mérito).

No fundo, isso é só mais um caso de edition wars, glorificado pelo fato da ofensa inicial ter sido perpetrada por uma publicação impressa.

Blah blah blah a 4a edição é a melhor encarnação do jogo (não, não é, nem de longe) versus blah blah blah a 3a edição é que era boa (não, não era, a 3a edição foi talvez a pior coisa que já aconteceu com o hobby - sim, estou sendo tendencioso, é o meu blog, okay, que deve ter só uns 10 leitores a menos que a Dragon Slayer).

A resenha é péssima. Mas a reação foi tão ruim quanto. Tomem vergonha na cara.