Spellbound (Dungeons & Dragons): D&D, Interpretação e Wargaming

quinta-feira, maio 07, 2009

D&D, Interpretação e Wargaming

ISSO NÃO É D&D! :(

No meio de todo o quebra-pau entre quem detesta e quem defende a 4e, tem dois argumentos opostos que eu já li por aí mais de uma vez.

De um lado, "Isso não é D&D!" (ou: "isso não é RPG!"), vociferado por gente desapontada com as mudanças radicais em algumas regras tradicionais, e/ou com a ênfase do jogo no combate tático.

Já do outro, gente rebatendo isso com "4e é mais D&D do que nunca!", alegando que D&D teve suas raízes no wargaming e, portanto, o combate tático e uso de miniaturas sempre foi mais importante do que interpretação, história, e etc.

Claro, existem outros debates, mas acho que esse representa melhor a questão central: será que a 4a edição descaracterizou o jogo de vez? Quem está certo? De que lado eu fico nessa discussão?

Sinceramente? Em nenhum dos dois, já que pra mim, ambos estão equivocados. Por que? Porque eles puxam demais a sardinha pro sua visão do que D&D é (ou deveria ser). É difícil ter razão quando você está fazendo um argumento subjetivo passar por verdade absoluta (a não ser quando se trata de mim, porque eu sou o dono da verdade).

D&D 4e não é RPG, 4a edição é um videogame no papel e blah blah blah normalmente é dito pelo pessoal que acredita que RPG é antes de mais nada, um exercício de narrativa e interpretação. Aquele pessoal que se vangloria de jogar campanhas que passam meses sem um combate ou mesmo rolagem de dados. O próprio Gary Gygax não ficaria à vontade com essa visão, a julgar pelo material escrito por ele. Gygax colocava o aspecto aventureiro do jogo acima de história e interpretação, sem negar a importância de ambas. A motivação do seu personagem, ou mesmo o motivo pelo qual ele está explorando aquela dungeon não seria tão importante quanto a ação em si. Dá até pra dizer que o importante mesmo é a motivação do jogador, que nesse caso seria apenas se divertir com o jogo e suas regras.

Já quem diz que D&D é essencialmente um wargame e que não tem nada de errado em priorizar o combate tático está esquecendo outro aspecto fundamental para a popularidade e longevidade do jogo: o conceito de cenários, campanhas e o enfoque nos personagens. Aí entra o cara que praticamente inventou essas coisas com sua campanha Blackmoor e os introduziu no jogo: Dave Arneson, co-criador do D&D.

Not a dungeon.

O que eu tou tentando dizer é: enquanto nenhum grupo está errado em priorizar um ou outro aspecto do jogo (a velha máxima "enquanto for divertido, não existe jeito errado de jogar"), não dá pra negar que numa visão "purista" de D&D, tanto mecânica quanto ambientação são indispensáveis. As raízes do jogo não estão apenas nos wargames, mas também na literatura fantástica. Se você minimiza a importância de um ou outro, acaba se distanciando do próprio conceito de RPG, pendendo ou para wargaming, ou então para teatro de improvisação. Vale lembrar que enquanto Gygax contribuiu mais com a parte mecânica e Arneson mais com a ambientação, ambos eram motivados pelas duas coisas.

Assim, voltamos a falar da 4a edição, e porque eu considero os dois lados da discussão errados: D&D 4e não é nem uma volta às raízes, e nem a morte do roleplaying. Todas as edições do jogo eram prato cheio pra quem gosta de combate tático ou regras detalhadas, a despeito da 4a edição tornar mais difícil (aliás, quase impossível) rolar combates sem um mapa - se isso foi feito para vender mais miniaturas, não vem ao caso agora. Assim como o grupo que quer focar na interpretação e na história pode muito bem jogar 4e sem deixar as regras entrarem no caminho, assim como jogava 3e, AD&D, e por aí vai.

Isso quer dizer que a 4e não tem falhas? De jeito nenhum. Meu ponto é que essa edição não é mais ou menos focada em regras do que as anteriores. Se essas regras são boas, aí já é outra história.

Um comentário:

  1. Eu concordo com vc no aspecto de que realmente não podemos deixar nada de lado, tanto a mecânica quanto a interpretação; um está dentro do outro.
    Mas vc tem q assumir q a terceira edição e a quarta forçaram em personagens q são bem final-fantasy mesmo e isso desiquilibrou a parte da interpretação sim. Hoje em dia n vemos mais personagens preparando mais histórias para seus pcs.

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